“O objeto é só um objeto até que ganhe um significado afetivo”, afirmou a psicanalista Patrícia Braz ao abrir sua palestra na WTM Latin America 2025. A fala marcou o início de uma reflexão profunda sobre o tema central do evento: “Where Tech Meets Touch”, ou “Onde a tecnologia encontra o toque humano”. Em meio a discussões sobre inteligência artificial, automação e dados, Patrícia destacou um ponto essencial: nenhuma tecnologia, por mais avançada que seja, consegue reproduzir a complexidade da experiência subjetiva humana.
Segundo nota enviada ao DIÁRIO DO TURISMO, ela destacou que escolhas ligadas ao turismo, como uma viagem ou hospedagem, vão muito além de atributos racionais. “Quando falo de conforto, falo da memória da casa da minha infância, dos encontros de família, do cheiro, da acolhida silenciosa. Isso não se aprende em cartilha, é sensorial”, explicou. Segundo a psicanalista, nossas decisões são impulsionadas por projeções, desejos e afetos — um campo simbólico profundo e único, onde se formam os vínculos verdadeiros.
Assim, mesmo que a tecnologia otimize processos, o que realmente move o consumidor é o desejo de conexão — e isso só o humano pode oferecer. “Não há dados que consigam tabular como as pessoas se sentem subjetivamente”, cravou. Pelo lado da tecnologia, Dai Dunka, Head de Travel & Loyalty do Google, reforçou um investimento cada vez maior em ferramentas para viagens para se conectar com o consumidor que faz perguntas cada vez mais complexas.
Ela lembrou que a plataforma registra no Brasil 130 milhões de buscas mensais somente sobre viagens, sendo que 53% delas são pesquisas genéricas. “Isso quer dizer que não há nenhuma marca atrelada, o consumidor está explorando as possibilidades”, alerta, destacando aumento de buscas por viagens em família e roteiros terrestres. Em termos de dias, Dai ressaltou que as buscas exploratórias – quando as pessoas estão tentando entender algo sobre a viagem para tomar uma decisão de compra – acontecem mais aos domingos, enquanto as comerciais – procura ativa por pacotes, passagens e hospedagens – se dividem entre segunda e sexta-feira.
No painel Descomplicando a Inteligência Artificial, especialistas destacaram a importância de priorizar a ética, a governança e o olhar humano. Para Paulo Henrique Assis Feitosa, Professor Doutor da USP, pesquisador visitante no IPEA e especialista em economia do turismo, inovação e desenvolvimento, o uso responsável da IA começa com uma coleta de dados alinhada à LGPD e passa por decisões algorítmicas supervisionadas por pessoas, para evitar vieses e estereótipos. Ele reforçou que a tecnologia veio para ficar, mas deve ser usada com consciência e boas práticas.
Marina Figueiredo, diretora-executiva da Braztoa, e Rayane Ruas, CEO da SPRINT Dados, apresentaram o Olhar Braztoa, recorte de dados coletados com as operadoras associadas que indicam tendências e oportunidades de negócios. Entre as principais tendências apontadas estão a busca por personalização total, o turismo para eventos esportivos, turismo para descanso, turismo para vivenciar fenômenos naturais,o turismo com foco em gastronomia, entre outros.
“Destinos com forte identidade culinária têm ganhado destaque já que a gastronomia não é mais vista como algo complementar, mas como motivador e eixo central sobre o qual se constrói toda a viagem. O mesmo vem acontecendo com os eventos esportivos: o viajante cria todo o roteiro ao redor da agenda da competição”, explicou Marina.
Outras oportunidades emergentes mapeadas pela Braztoa são o turismo para acompanhar festivais musicais e shows, o turismo motivado por filmes, séries e novelas, o turismo ancestral e de raízes, o turismo noturno, o turismo de base comunitária e o turismo combinado com cursos e aprendizado. O estudo apresentado durante a WTM Latin America também destacou fatores que devem orientar a escolha do viajante: destinos menos conhecidos e explorados, fora do comum e novos, maior preocupação com impactos socioambientais e a demanda por tecnologia para otimizar o planejamento e a experiência de viagem.
O debate sobre o futuro das viagens corporativas foi outro destaque na programação do segundo dia da WTM Latin America, com previsões otimistas e desafios estratégicos. Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp), o setor movimentou R$ 124 bilhões em 2023 e deve atingir R$ 130 bilhões em 2025, com crescimento de 5%. Para Alexandre Palmeira, diretor da CW Tour e Conselheiro ABAV SP, as mudanças têm sido rápidas e exigem atenção ao impacto da tecnologia e da automação. Ele reforçou que o bleisure — combinação de trabalho e lazer — veio para ficar, refletindo novas demandas dos viajantes.
Entre as tendências apontadas, estão a valorização do conforto na hospedagem, como boa cama, chuveiro e até academia, e a possibilidade de estender a estadia para fins de semana ou viagens em família. Ao mesmo tempo, empresas enfrentam o desafio de equilibrar custos e controle orçamentário, especialmente com o retorno gradual ao modelo presencial. A gestão de viagens, mais do que nunca, precisa ser estratégica e centrada nas pessoas.
Dois painéis no teatro Transformation abordaram o relevante tema do turismo responsável. Conduzido por Tânia Neres, da Embratur, “Como conectar públicos para a prática do turismo responsável”, trouxe as experiências e boas práticas da marisqueira Elizângela Lopes, do colombiano Jeremy Ávila e da pesquisadora Elisa Spampinato. “Nós, na Embratur, queremos um Brasil melhor primeiro para os brasileiros, para também oferecer um Brasil melhor para os turistas”, sentenciou Tânia e convidou os participantes a debaterem. Elizângela Lopes reforçou o ponto. “O turismo responsável é aquele no qual valorizamos primeiro o povo, a natureza e a cultura local”.
“O mais importante é o respeito ao lugar ocupado pelas pessoas que já vivem ali, reconhecermos como turistas que não somos o centro do mundo, e temos que respeitar o lugar e o povo que visitamos e também reconhecer os limites de recursos básicos como água, alimentos e energia”, explicou Elisa Spampinato.
O colombiano Jeremy Ávila completou o pensamento ao afirmar: “Para um turismo responsável é preciso ter consciência de onde vamos e com quem vamos nos encontrar, respeitando as regras da comunidade que vamos visitar e dos lugares que vamos conhecer”.
Na sequência, os visitantes da feira puderam acompanhar no palco o painel “Como transformar o monitoramento de impactos em estratégia de vendas no turismo responsável”, mediado por Solange Barbosa, CEO da Rota da Liberdade. “Hoje em dia todo mundo diz que está fazendo turismo responsável, mas sabemos que existe muito greenwashing”, disparou Solange e complementou que dentro do coletivo Muda, eles têm a preocupação de ser verdadeiros e responsáveis com o que estão criando quanto ao ESG”.
A convidada Mariana Madureira, da Raízes, salientou o trabalho de mensuração. “Devemos nos perguntar o que queremos mensurar, de verdade, pois isso dá muito trabalho e o custo, às vezes, fica mais alto que o próprio projeto. Temos que ser mais assertivos no que mensurar, pois não temos recursos para tudo e precisamos deixar clara a diferença entre mensuração de resultado e mensuração de impacto, que nos trazem informações diferentes”.
Rudã Fernandes, CEO e fundador da Biofábrica de corais, compartilhou sua experiência de sucesso com a comunicação e divulgação do projeto. “A facilidade para sermos veiculados e termos espaço na mídia é fruto de uma série de iniciativas. Temos dados confiáveis para compartilhar, fazemos uma curadoria de banco de imagens, para ilustrar o que queremos comunicar, além disso o tema engaja e chama a atenção do público, e temos tecnologia, ao desenvolvermos e conseguirmos a primeira patente de um dispositivo de controle dos corais, na biofábrica”.
No final do dia, como já é tradição há cinco edições, foram entregues os prêmios de Turismo Responsável. “Sem dúvidas, é um dos momentos mais bonitos e simbólicos desse nosso encontro porque celebra o que o turismo tem de mais potente: a capacidade de transformar realidades, de gerar impacto positivo, e de conectar pessoas, culturas e histórias”, afirmou Bianca Pizzolito, Event Leader da WTM Latin America.
Pablo Menéndez e Aline Bispo, ressaltaram o recorde de inscrições registrado nesta edição. Foram 164 iniciativas inscritas, vindas de 14 países da América Latina. A seleção dos finalistas foi conduzida por um júri composto por 18 experts em turismo responsável de nove países, indicados pelos representantes das seis organizações parceiras desta edição do Prêmio e com atuação reconhecida por toda a América Latina. Os vencedores foram:
CATEGORIA: Melhores iniciativas para enfrentamento das mudanças climáticas e conservação da biodiversidade | Apoiador: Adventure Travel Trade Association (ATTA)
CATEGORIA: Melhores iniciativas para promover a diversidade, equidade e inclusão no turismo | Apoiador: Coletivo MUDA!
CATEGORIA: Melhores iniciativas para promover o impacto socioeconômico e a construção da paz através do turismo | Apoiador: La Mano del Mono
CATEGORIA: Melhores iniciativas de trabalho em rede para promover o turismo responsável nos destinos | Apoiador: Planeterra
CATEGORIA: Melhores iniciativas para o turismo Indígena e/ou Comunidades Tradicionais | Apoiador: World Indigenous Tourism Alliance (WINTA)
CATEGORIA: Melhores iniciativas para o resgate da memória e valorização do patrimônio histórico | Apoiador: Asociación Colombiana de Turismo Responsable (ACOTUR)
A WTM Latin America é realizada, anualmente, em São Paulo e atrai quase 30 mil profissionais de turismo durante os três dias de evento. O evento oferece conteúdo qualificado aliado a networking e oportunidades de negócios. Em sua mais recente edição, em 2024, a WTM Latin America manteve seu foco na geração efetiva de negócios, e conseguiu a marcação antecipada de quase sete mil reuniões que foram realizadas entre compradores, agentes de viagens e expositores. Em 2025, a WTM Latin America ocorre entre 14 e 16 de abril, no Expo Center Norte, em São Paulo. Saiba mais no site oficial.
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